A derrocada dos Correios

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a estatal teve 56,4 mil novas ações trabalhistas registradas em 12 meses, o equivalente a 154 por dia

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11/12/20252 min read

Os Correios voltam ao centro do debate público em meio a uma grave crise financeira e jurídica. A empresa enfrenta uma combinação de prejuízos bilionários, perda de competitividade no mercado logístico e um passivo trabalhista crescente que revela problemas estruturais antigos.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a estatal lidera o ranking de litigantes trabalhistas no país, com 56,4 mil novas ações registradas em 12 meses, o equivalente a 154 por dia. O número corresponde a cerca de 70% da força de trabalho atual da empresa, formada por 83 mil funcionários. Os dados foram levantados pelo jornal O Estado de São Paulo.

Além das novas demandas, há 75,1 mil processos pendentes até outubro deste ano, muitos deles com mais de três décadas de tramitação. Em 2024, os Correios desembolsaram R$ 1,1 bilhão em condenações, e só no primeiro semestre de 2025 o valor já chegou a R$ 1,5 bilhão. A estatal vive um ciclo de 12 trimestres consecutivos de prejuízo, acumulando perdas de R$ 8,38 bilhões desde 2022, o que a levou a pedir aval do Tesouro Nacional para um empréstimo de R$ 20 bilhões.

Advogados e especialistas atribuem o elevado número de ações a falhas em acordos coletivos, terceirizações precárias e falta de investimentos em saúde e segurança do trabalho. A maioria dos processos envolve doenças ocupacionais e discussões sobre direitos trabalhistas suprimidos. Internamente, a sobrecarga é intensa: no TRT-15 (Campinas), cada advogado dos Correios chega a responder por até 900 ações simultaneamente, cenário que levou até à condenação da empresa por causar burnout em um de seus defensores.

Em nota ao jornal, a estatal afirmou que realiza levantamentos e análises técnicas para conter o avanço dos passivos e que desenvolve propostas de mitigação, como ajustes internos e um novo plano de cargos e salários. A direção dos Correios descartou ajuda do governo federal e informou que trabalha em um plano de reestruturação financeira para reduzir despesas, diversificar receitas e recuperar a liquidez. Especialistas alertam que, em caso de privatização, todos os passivos trabalhistas deverão ser contabilizados e repassados à futura controladora. Fonte: Estadão